"Não há cristianismo sem a cruz": esta foi a ideia central da homilia do papa Francisco na missa desta manhã, (08/04) na Casa Santa Marta. O pontífice destacou que "não há possibilidade de sairmos do nosso pecado por conta própria" e reiterou que a cruz não é um enfeite para colocarmos no altar, e sim o mistério do amor de Deus.
Caminhando no deserto, o povo se lamuriava contra Deus e contra Moisés. Mas, quando o Senhor enviou serpentes, o povo admitiu o seu pecado e pediu um sinal de salvação. O Santo Padre se referiu à primeira leitura, tomada do Livro dos Números, para refletir sobre a morte no pecado. Em seguida, constatou que Jesus, no Evangelho de hoje, admoesta os fariseus dizendo: "Morrereis em vosso pecado".
"Não há possibilidade de sairmos sozinhos do nosso pecado. Não há. Aqueles doutores da lei, aquelas pessoas que ensinavam a lei, não tinham uma ideia clara sobre isso. Eles acreditavam, sim, no perdão de Deus, mas se sentiam fortes, autossuficientes, sabiam todo. E, no fim das contas, eles tinham feito da religião, da adoração a Deus, uma cultura com valores, reflexões, certos mandamentos de conduta para ser educados, e pensavam, sim, que nosso Senhor pode perdoar; eles sabiam disso, mas tudo era muito distante".
No deserto, mais tarde, Deus ordena que Moisés faça uma serpente e a exponha em uma vara: quem for picado pelas serpentes e olhar para esta, viverá. Mas o que é a serpente? "A serpente é o símbolo do pecado", como vemos no Livro do Gênesis quando "foi a serpente que seduziu Eva ao lhe propor o pecado". E Deus manda levantar o "pecado como uma bandeira da vitória". Isto, explicou Francisco, "não pode ser compreendido direito se não entendermos o que Jesus nos diz no Evangelho". Jesus diz aos judeus: "Quando tiverdes levantado ao Filho do homem, então conhecereis que sou eu". No deserto, prosseguiu o papa, foi levantado o pecado, "mas é um pecado que procura a salvação, porque ele é curado ali mesmo". O que é elevado, destacou Francisco, é o Filho do homem, o verdadeiro Salvador, Jesus Cristo.
"O cristianismo não é uma doutrina filosófica, não é um programa de vida para sobrevivermos, para sermos educados, para fazermos as pazes. Estas são as consequências. O cristianismo é uma pessoa, uma pessoa levantada na cruz, uma pessoa que aniquilou a si mesma para nos salvar; Ele se fez pecado. E, assim como o pecado foi levantado no deserto, aqui foi levantado Deus feito homem e feito pecado por nós. E todos os nossos pecados estavam lá. Não se entende o cristianismo sem se entender esta profunda humilhação do Filho de Deus, que humilhou a si mesmo transformando-se em servo até a morte e morte de cruz, para servir".
“Não temos nada de que nos gloriarmos”, observou o pontífice: “esta é a nossa miséria”. Mas, “por misericórdia de Deus, nos gloriamos em Cristo crucificado”, como São Paulo. E por isso "não há cristianismo sem a cruz e não há cruz sem Jesus Cristo". O coração da salvação de Deus "é o seu Filho, que tomou sobre si todos os nossos pecados, as nossas soberbas, as nossas seguranças, as nossas vaidades, os nossos desejos de ser como Deus". Por isso, "um cristão que não sabe se gloriar em Cristo crucificado não entendeu o que significa ser cristão". As nossas chagas, "as chagas que o pecado deixa em nós, só podem ser curadas com as chagas do Senhor, com as chagas de Deus feito homem, humilhado, aniquilado. Este é o mistério da cruz".
"Não é um enfeite, que tem que ser colocado sempre nas igrejas, no altar. Não é um símbolo que nos diferencia dos outros. A cruz é o mistério, o mistério do amor de Deus, que se humilha, que se transforma em ‘nada’, que se faz pecado. Onde está o teu pecado? 'Eu não sei, eu tenho muitos'. Não, o teu pecado está ali, na cruz. Vai buscá-lo ali, nas chagas do Senhor, e o teu pecado será curado, as tuas chagas serão sanadas, o teu pecado te será perdoado. O perdão que Deus nos dá não consiste em eliminar uma conta que temos com Ele: o perdão que Deus nos dá são as chagas do seu Filho na cruz, levantado na cruz. Que Ele nos atraia para si e que nós nos deixemos sanar".
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