Deus nos criou à sua imagem e semelhança. Por suas ambições e interesses vaidosos, o ser humano se afastou do rosto de Deus. Como era grande a intimidade entre Deus e suas criaturas! Em cada entardecer, Deus passeava com seus filhos no jardim da vida e da felicidade (Gn 2,12). Mas, um dia, os laços de amizade se romperam. Os seres humanos se voltaram contra a bondade divina e se afastaram de sua presença. Deus, que nos deu o livre arbítrio, respeitou nossas decisões e nos deixou partir para longe de seu amor. Mas o amor de Deus é infinito e ele sente saudades de seus filhos e filhas que se distanciam de seu coração de mãe. Ele faz aliança com seu povo, para trazê-lo novamente à sua presença.
Muitas são as tentativas de Deus para resgatar das garras do mal os seus eleitos. Deus pagou altos valores de resgate, enviando seus profetas e comunicando-se de tantas maneiras com seus filhos. Mas sempre respeitando a nossa liberdade.
Na plenitude dos tempos, Deus assume pessoalmente a missão redentora da humanidade. Na sua grande bondade, realiza os primeiros passos na reconquista da humanidade. Deus convida Maria para participar dessa missão. É um aceno de amor inconfundível, pois Deus decide habitar entre nós. Deus escolhe Maria como sua preferida para essa missão. Entre tantas mulheres, Deus encontrou a mais simples, mais humilde e mais fiel dentre as filhas dos homens. Ele escolhe por amor, e com o mesmo amor ele santifica a filha de Sião, para torná-la a mãe de Deus e, como tal, mãe da humanidade.
Por uma opção natural de sua ação no mundo, Deus convida Maria e a deixa livre para acolher seu apelo de amor. Maria, confiante em Deus, medita em seu coração o significado do anúncio do anjo Gabriel. Ela precisa responder, pois seu coração é plenamente aberto ao projeto de Deus em sua vida. Ela se faz serva humilde de Deus, para servir ao seu povo na reconstrução de um mundo melhor, na edificação do reino de Deus na história.
Deus pede passagem, com respeito à sua liberdade e sua responsabilidade. Maria abre seu sorriso como o sol descortina a alvorada no amanhecer. O silêncio de Maria torna-se uma emocionante resposta positiva a Deus, que a acolhe com gratidão e a torna participante de sua missão redentora.
Naquele momento, Deus vem habitar no coração da humanidade. Maria e José representam a participação humana na vida de Jesus, enquanto a concepção do Espírito Santo marca a natureza divina do Filho do Homem. Maria está presente no mistério da encarnação, assim como José é seu cúmplice e sua testemunha. O Filho de Deus embarca numa aventura histórica no seio de uma família humana.
Se o anjo Gabriel é o embaixador de Deus para a missão redentora divina, Maria e José são os embaixadores humanos, que fecundam na natureza humana a presença divina do Verbo de Deus.
Maria se sente feliz e realizada por Deus, por ser escolhida para uma sublime missão. José, o homem bom, sente-se igualmente enobrecido por participar dessa missão histórica de Jesus de Nazaré. O convite divino à família de Nazaré revela sua grande experiência mística de Deus, que transborda em sua intimidade. A alegria de Maria revela o amor eterno de Deus pelos mais simples, mais humildes e abertos de coração. Maria disse “sim”, com coragem e confiança. José disse “sim” para participar, com Maria, dos destinos do Filho de Deus humanizado.
A família de Nazaré aceitou acolher em seu lar o Deus feito menino. A casa de Nazaré tornou-se o lar da sagrada família, pois converteu-se em lar da esperança, da fé e da confiança. Nossos lares, quando acolhemos a voz dos anjos que nos anunciam a presença de Jesus Cristo pela força do Espírito Santo, tornam-se também a “casa de Nazaré”; nossas famílias se tornam sagradas e repletas da graça divina. A todo instante, os mensageiros de Deus nos anunciam que Deus quer habitar em nosso lar.
Do livro Nos passos de Maria
Paulinas Editora
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